terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O Segurança


São as vistas da antiga Cadeia da Relação (agora Centro Português de Fotografia) que, mesmo por entre as grades, captam o olhar. Mas é no interior que fica retida a nossa atenção: Paulo, segurança mascarado de guia turístico improvisado, conta-nos as pequenas histórias e segredos reinantes. Fala-nos de Camilo, das Memórias do Cárcere e das suas paixões de forma tão inflamada, quanto humilde. "Faço isto por egoísmo, para passar o tempo, não é a minha função!", lança ele. E o visitante impressiona-se, vai ficando, enfeitiçado pelas suas palavras. O Porto não é só feito de pontes, nem de edifícios antigos, muito menos de vinho; o Porto é feito de Paulos e são esses que fazem voltar.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Guindalense

O livro que anda a fazer as delícias das gentes do Porto podia ser sobre restaurantes gourmet ou bares da moda. Sobre as novidades da vida nocturna ou o impulso criativo de Bombarda. No entanto, o livro que anda por aí a arrancar sorrisos e a avivar memórias fala simplesmente de tascas, palavra tão áspera e rica quanto os locais que designa. As Tascas do Porto são, nas palavras de Raul Simões Pinto, "reflexos ainda de uma cidade antiga, industrial, bairrista, com homens de fato-macaco, peixeiras de rua, calões brejeiros e fugas aos polícias". 

 

Não sabemos se o Guindalense ficaria lisonjeado com o título de tasca ou se sequer poderemos dizer que se trata de uma (pelo menos, não faz parte do elenco de As Tascas do Porto), mas o certo é que o Guindalense aglutina muito do que são os reflexos do bairrismo _ daquele bairrismo salutar _ da cidade. É sede de clube desportivo, o Guindalense Futebol Clube, e fica na Escada dos Guindais. Ao descermos em direcção ao número 43, temos imediatamente uma pequenina amostra do que nos espera: o Douro sempre lá ao fundo. A entrada é dissimulada, não está feita para atrair os desatentos e em nada faz prever o tesouro de paisagem que se encontra lá em cima.

 


Entramos um pouco a medo e surge no ar um "derivado a" em pronúncia carregada. À porta, 3 homens desfiam histórias; um deles, não sabemos se emocionado pelo vinho ou pela vida, parece soltar algumas lágrimas. Somos olhadas de soslaio: as miúdas que vieram ver as vistas de máquina e bloco de notas em punho. Lá dentro, há mulheres crescidas e meninas de olhar doce, e nos nossos ouvidos ecoam realmente "calões brejeiros". O Guindalense, embrenhado na zona da Sé, tem, de facto, das vistas mais bonitas e das gentes mais genuínas que o Porto apresenta. Não dá nas vistas e não costuma vir em roteiros turísticos, mas, de Inverno ou de Verão, com chuva ou com céu azul e bandeirinhas coloridas a anunciar os Santos, vale a pena passar por lá. Não é restaurante gourmet, nem bar da moda, mas faz as delícias de qualquer um.

Nota: As fotos foram, como é evidente, tiradas em momentos diferentes. Algumas mais recentes; outras pouco tempo depois dos Santos Populares. O Guindalense vale uma visita em qualquer altura.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Intermitências


O Porto tem estampado no seu currículo algumas ideias feitas e lugares-comuns. Cidade cinzenta, granítica, melancólica e misteriosa. O Porto pode ser um cinquentão de fato, gravata e ar sério ou uma enigmática miúda de 20 anos. Por serem tão redutores, estes clichés não lhe fazem totalmente jus, mas também não deixam de ter um fundo de verdade. Talvez o céu carregado e as pesadas gotas de chuva de uma tarde de Dezembro lhe tenham valido tais epítetos. De uma forma ou de outra, nós não lhe viramos as costas.
Chegamos ao tabuleiro superior da Ponte Luiz I e lá ao longe, na outra margem, Vila Nova de Gaia. Num misto de sarcasmo e graça, diz-se que “o melhor de Gaia é a vista para o Porto”. Essa é uma discussão que fica para outra altura! Atravessamos a ponte em passo ligeiro e, lá em baixo, na Ribeira, ecoam os gritos de apoio aos barcos de remo que se debatem no Douro.

O Jardim do Morro espera-nos na outra margem com a sua pacatez e o seu pequeno coreto. Um ou dois turistas que nos acompanharam na travessia da ponte enriquecem o seu registo fotográfico. Não há, de facto, como escapar à paisagem que enche a vista, que a perfura e que a turva. Perfila-se sobre o nosso olhar o casario de cores fortes. Na Ribeira, o Porto abandona o cinzento e ganha nova tonalidade: amarelo ou, eventualmente, um vermelho escuro de sangue já há muito derramado pelos seus habitantes. Daquele pequeno jardim gaiense de grutas e banquinhos românticos para namorados é o velho Porto em toda a sua plenitude que podemos avistar: a Sé, os Clérigos e as pontes; a Alfândega, os rabelos e a figura de preto da Sandeman.

De olhar e alma lavados, é o teleférico que, desde Abril, liga o Jardim do Morro ao Cais de Gaia que nos prende a atenção. São sobretudo turistas que dele fazem uso. Porventura já toldados por um Porto nas Caves, mas ainda ávidos de um pouquinho mais de Gaia, Porto e Douro. Nós fazemos o percurso inverso, percorremos a ponte em amena cavaqueira e de guarda-chuva bem aberto. Pousamos os pés em terra firme portuense e acolhe-nos o garrido da loja de souvenirs da Avenida Vímara Peres. Entramos e procuramos o Porto cinzento, granítico e melancólico. Não é nos marcadores de livros, nem nos ímanes de frigorífico, muito menos nas canecas com rosto de Pessoa que o encontramos. Os clichés, as ideias feitas e os lugares-comuns têm destas coisas: estão lá e não estão. São estas as intermitências que o Porto, misterioso, tem.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Embriagar-se de Porto

Juntaram-se para beber da cidade e, como complemento da embriaguez, escolheram a imagem e a palavra. Não têm a presunção de acreditar que este Atrás do Sol Porto se torne refinado como um champanhe francês ou charmant como um Porto Vintage. Não são nem mais, nem menos apaixonadas pelo Porto do que outros que o escrevem e o fotografam. São apenas duas miúdas que querem ficar ébrias de Porto e partilhar.

Esperam uma cidade em efervescência. Esperam gozo, fruição e lata. A lata suficiente para bater às portas, para meter conversa e para trazer para Atrás do Sol Porto o lado humano da cidade. Esperam leitores que conheçam o Porto ou que venham a conhecer, que tenham informações a dar ou a pedir. Elas - Rachelet e Caetana, criadas ao vosso dispor! - vão andar por aí, sem imposições de passeios pela cidade ou de datas de publicação no blogue. Se se cruzarem por aí, acenem e sorriam. Aqui não falaremos delas. Este blogue é do Porto.