terça-feira, 13 de março de 2012

O bem dissimulado




O Sukiya é, provavelmente, dos espaços que melhor se sabem dissimular na cidade do Porto. Num local improvável _ às entradas da VCI e tendo como vizinha a torre das Antas _ esta casa de chá/restaurante permite luminosidade, verde, sol e livros. Não é um espaço da moda e tem a sobriedade necessária para o não querer ser. O Sukiya é diferente: é onde se vai quando se quer escapar da praia cravada de gente num Domingo de sol, é lá que se passa horas a ler em sossego e a conhecer mais um chá, é por ali que se conversa com calma ou se vai almoçar sem pressas à semana. Um segredo que merece ser divulgado.

domingo, 11 de março de 2012

European Best Destination 2012


A European Consumers Choice é uma organização não lucrativa com sede em Bruxelas. Anualmente, em conjunto com profissionais da área do turismo, selecciona 20 cidades europeias que irão debater-se pelo título de "European Best Destination". O Porto consta, orgulhosamente, dessa listagem. A votação decorre aqui.

domingo, 4 de março de 2012

Clube Literário do Porto



A notícia de que o Clube Literário do Porto (CLP) vai encerrar deixou aqueles que, desde 2005, o foram frequentando boquiabertos. Pelo aspecto inesperado da infeliz novidade, pela rapidez nas acções (está previsto o encerramento já para o final de Março) e, sobretudo, por ser mais uma morte para a cultura da cidade. O CLP é um espaço calmo, sem peneiras, de tertúlia e de conversa. No CLP assisti a lançamentos de livros de amigos, a concertos e a noites de poesia. Quis o destino que, por ironia, a minha (provável) última entrada no CLP fosse num momento de alegria e satisfação pessoal para mais um amigo: a inauguração da exposição do fotógrafo Luís Ferreira, "a surpresa dos pequenos instantes"*.




Antes de entrar no CLP, foi com as árvores despidas e com o céu escuro de um Porto que, nos últimos dias, tem andado chuvoso que tive de me debater. Lá dentro, os caixotes e livros empacotados provaram que a saída estava para breve e que os tempos não eram de felicidade. O burburinho no piso abaixo contrariava, contudo, esta ideia. O colorido da foto de Singapura ainda mais. Mas nem só de fotos de Singapura vivia a exposição. Luís Ferreira diz-se viajante há 37 anos, portanto, estavam patentes fotos do Cambodja, do Chile, da Nova Zelândia, de Hong Kong,... Pedindo licença a Pessoa, as fotos foram agrupadas pelos seguintes motes: "pessoas incomparáveis", "momentos inesquecíveis", "coisas inexplicáveis". No fundo, tudo o que poderia servir também de mote ao CLP. Uma pena.

* Pode ser vista no CLP até 15 de Março.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Não podendo falar para toda a terra / direi um segredo a um só ouvido"*



Entrar na Poetria é provavelmente perder-se nos 12 metros quadrados mais encantados do Porto. Num cantinho discreto das Galerias Lumière, assenta a paixão avassaladora pelo teatro e pela poesia. Ali mesmo às portas do Teatro Carlos Alberto, são sobretudo os da área (encenadores, estudantes de teatro,...) que visitam a Poetria e que a sabem de cor. Mas a Poetria está lá para toda a gente, com um brilho nos olhos de quem por ela dá a cara e a insuflar sonhos aos que por lá passam.


Entrei e cuidadosamente meti conversa, remetendo para os cabazes (compostos por moleskines, sabonetes, marcadores de livros, poemas,...) que a Poetria vai lançar todos os meses de 2012. Rapidamente percebi que na calha estão mais projectos. Como aquele de mandar entregar livros de poesia a casa das gentes, como se de bouquets de flores se tratassem. O cartão a acompanhar, esse irá em modo de diseur, humano, a trautear palavras bonitas.


Para descrever a Poetria, no entanto, não são precisas palavras bonitas, nem escolhidas com  muito lustre ou ostentação. Basta-lhe a sua simplicidade, a simplicidade só possível aos que amam aquilo de que falam. 10 minutos passados lá dentro e percebe-se o segredo de tudo o que lá mora: amor. Um segredo que não deve ser dito apenas a um ouvido. A Poetria merece ser partilhada com toda a terra.

*Luiza Neto Jorge

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Um Porto de ironia e boa disposição


Há qualquer aura contestatária a pairar sobre o Largo de Mompilher (o mesmo da Champanheria da Baixa, sim!): há semanas, foi a caricata placa toponímica em nome do Largo Eng. José Sócrates, "mentiroso, corrupto e incompetente"; recentemente, e após obras de remodelação, surgem, no chão, assim como quem não quer passar dissimulado, 3 mensagens a indicar "aqui morreu uma árvore". Um pouco de Porto irónico e acutilante, não deixando de ser igualmente bem disposto. No chão também o retrato das suas gentes.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O que fazia falta por cá



Dizer que a Baixa do Porto goza hoje de um dinamismo invejável já deixou de ser moda, Também não é lugar comum. É um facto. Os espaços e projectos novos são cada vez mais elaborados, cada vez mais entusiasmantes e entusiasmados. Ao cimo da Rua da Picaria encontramos prova disso: a Champanheria da Baixa. De portas semi-abertas e ainda em clara arrumação de casa, o espaço já promete muitos e bons momentos. Atraída pela decoração, pela beleza das garrafas expostas e munida de uma lata que não me reconhecia, enfiei a cabeça lá dentro e perguntei, um pouco comprometida, quando abriam ao público. Em tom afável, a resposta não tardou: "Quarta-feira. Querem entrar e conhecer?" Não havia como dizer que não.

O Porto é feito destas coisas. De acasos, de curiosidades, da simpatia e generosidade de um designer que deixou entrar duas estranhas, colegas de trabalho, que acharam simplesmente que o local estava giríssimo. Que lhes explicou calmamente que não queria que fosse mais um bar para vender vodka, nem um espaço à imagem da desordem das champanherias de Barcelona ou da presunção de Madrid. A acompanhar as flutes de espumante e os cocktails de champanhe, haverá, no entanto, tapas e outros petiscos. O Porto vai ficar mais rico com a Champanheria da Baixa. E eu que não levava máquina fotográfica...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O que há de muito bom no Maus

 


 
No número 178 da Rua Passos Manuel, juntinho ao Coliseu, esconde-se o Maus Hábitos. O nome pode até, à primeira vista, não auspiciar nada de bom, mas o Maus Hábitos é já há muito uma referência para o Porto. Uma discreta placa à entrada contrasta com o colorido dos graffiti que nos acompanham, andar a andar, até ao 4º piso. Lá dentro, uma série de salas, cobertas e descobertas, abrigam não só um café-bar, como inúmeras actividades de cariz artístico.






Mas nem só de noite e de arte vive o Maus Hábitos. Ao Domingo, por exemplo, entre as 11h e as 16, há o Brunch dos Bons. O menu é delicioso, as compotas e os docinhos são caseiros, os funcionários são de um à vontade e simpatia singulares e, como se isto não bastasse, o espaço é giro, calmo e bem frequentado. Só coisas muito boas no Maus.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O Segurança


São as vistas da antiga Cadeia da Relação (agora Centro Português de Fotografia) que, mesmo por entre as grades, captam o olhar. Mas é no interior que fica retida a nossa atenção: Paulo, segurança mascarado de guia turístico improvisado, conta-nos as pequenas histórias e segredos reinantes. Fala-nos de Camilo, das Memórias do Cárcere e das suas paixões de forma tão inflamada, quanto humilde. "Faço isto por egoísmo, para passar o tempo, não é a minha função!", lança ele. E o visitante impressiona-se, vai ficando, enfeitiçado pelas suas palavras. O Porto não é só feito de pontes, nem de edifícios antigos, muito menos de vinho; o Porto é feito de Paulos e são esses que fazem voltar.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Guindalense

O livro que anda a fazer as delícias das gentes do Porto podia ser sobre restaurantes gourmet ou bares da moda. Sobre as novidades da vida nocturna ou o impulso criativo de Bombarda. No entanto, o livro que anda por aí a arrancar sorrisos e a avivar memórias fala simplesmente de tascas, palavra tão áspera e rica quanto os locais que designa. As Tascas do Porto são, nas palavras de Raul Simões Pinto, "reflexos ainda de uma cidade antiga, industrial, bairrista, com homens de fato-macaco, peixeiras de rua, calões brejeiros e fugas aos polícias". 

 

Não sabemos se o Guindalense ficaria lisonjeado com o título de tasca ou se sequer poderemos dizer que se trata de uma (pelo menos, não faz parte do elenco de As Tascas do Porto), mas o certo é que o Guindalense aglutina muito do que são os reflexos do bairrismo _ daquele bairrismo salutar _ da cidade. É sede de clube desportivo, o Guindalense Futebol Clube, e fica na Escada dos Guindais. Ao descermos em direcção ao número 43, temos imediatamente uma pequenina amostra do que nos espera: o Douro sempre lá ao fundo. A entrada é dissimulada, não está feita para atrair os desatentos e em nada faz prever o tesouro de paisagem que se encontra lá em cima.

 


Entramos um pouco a medo e surge no ar um "derivado a" em pronúncia carregada. À porta, 3 homens desfiam histórias; um deles, não sabemos se emocionado pelo vinho ou pela vida, parece soltar algumas lágrimas. Somos olhadas de soslaio: as miúdas que vieram ver as vistas de máquina e bloco de notas em punho. Lá dentro, há mulheres crescidas e meninas de olhar doce, e nos nossos ouvidos ecoam realmente "calões brejeiros". O Guindalense, embrenhado na zona da Sé, tem, de facto, das vistas mais bonitas e das gentes mais genuínas que o Porto apresenta. Não dá nas vistas e não costuma vir em roteiros turísticos, mas, de Inverno ou de Verão, com chuva ou com céu azul e bandeirinhas coloridas a anunciar os Santos, vale a pena passar por lá. Não é restaurante gourmet, nem bar da moda, mas faz as delícias de qualquer um.

Nota: As fotos foram, como é evidente, tiradas em momentos diferentes. Algumas mais recentes; outras pouco tempo depois dos Santos Populares. O Guindalense vale uma visita em qualquer altura.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Intermitências


O Porto tem estampado no seu currículo algumas ideias feitas e lugares-comuns. Cidade cinzenta, granítica, melancólica e misteriosa. O Porto pode ser um cinquentão de fato, gravata e ar sério ou uma enigmática miúda de 20 anos. Por serem tão redutores, estes clichés não lhe fazem totalmente jus, mas também não deixam de ter um fundo de verdade. Talvez o céu carregado e as pesadas gotas de chuva de uma tarde de Dezembro lhe tenham valido tais epítetos. De uma forma ou de outra, nós não lhe viramos as costas.
Chegamos ao tabuleiro superior da Ponte Luiz I e lá ao longe, na outra margem, Vila Nova de Gaia. Num misto de sarcasmo e graça, diz-se que “o melhor de Gaia é a vista para o Porto”. Essa é uma discussão que fica para outra altura! Atravessamos a ponte em passo ligeiro e, lá em baixo, na Ribeira, ecoam os gritos de apoio aos barcos de remo que se debatem no Douro.

O Jardim do Morro espera-nos na outra margem com a sua pacatez e o seu pequeno coreto. Um ou dois turistas que nos acompanharam na travessia da ponte enriquecem o seu registo fotográfico. Não há, de facto, como escapar à paisagem que enche a vista, que a perfura e que a turva. Perfila-se sobre o nosso olhar o casario de cores fortes. Na Ribeira, o Porto abandona o cinzento e ganha nova tonalidade: amarelo ou, eventualmente, um vermelho escuro de sangue já há muito derramado pelos seus habitantes. Daquele pequeno jardim gaiense de grutas e banquinhos românticos para namorados é o velho Porto em toda a sua plenitude que podemos avistar: a Sé, os Clérigos e as pontes; a Alfândega, os rabelos e a figura de preto da Sandeman.

De olhar e alma lavados, é o teleférico que, desde Abril, liga o Jardim do Morro ao Cais de Gaia que nos prende a atenção. São sobretudo turistas que dele fazem uso. Porventura já toldados por um Porto nas Caves, mas ainda ávidos de um pouquinho mais de Gaia, Porto e Douro. Nós fazemos o percurso inverso, percorremos a ponte em amena cavaqueira e de guarda-chuva bem aberto. Pousamos os pés em terra firme portuense e acolhe-nos o garrido da loja de souvenirs da Avenida Vímara Peres. Entramos e procuramos o Porto cinzento, granítico e melancólico. Não é nos marcadores de livros, nem nos ímanes de frigorífico, muito menos nas canecas com rosto de Pessoa que o encontramos. Os clichés, as ideias feitas e os lugares-comuns têm destas coisas: estão lá e não estão. São estas as intermitências que o Porto, misterioso, tem.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Embriagar-se de Porto

Juntaram-se para beber da cidade e, como complemento da embriaguez, escolheram a imagem e a palavra. Não têm a presunção de acreditar que este Atrás do Sol Porto se torne refinado como um champanhe francês ou charmant como um Porto Vintage. Não são nem mais, nem menos apaixonadas pelo Porto do que outros que o escrevem e o fotografam. São apenas duas miúdas que querem ficar ébrias de Porto e partilhar.

Esperam uma cidade em efervescência. Esperam gozo, fruição e lata. A lata suficiente para bater às portas, para meter conversa e para trazer para Atrás do Sol Porto o lado humano da cidade. Esperam leitores que conheçam o Porto ou que venham a conhecer, que tenham informações a dar ou a pedir. Elas - Rachelet e Caetana, criadas ao vosso dispor! - vão andar por aí, sem imposições de passeios pela cidade ou de datas de publicação no blogue. Se se cruzarem por aí, acenem e sorriam. Aqui não falaremos delas. Este blogue é do Porto.